Primeiramente, entende-se por Sagrado Feminino o retorno à ancestralidade, ao despertar do autoconhecimento do corpo físico e espiritual. Um caminho de amor próprio e ao próximo. Uma conexão com a natureza, seus ciclos e suas energias. É uma filosofia de vida. E feminismo, entende-se pela luta aos direitos das mulheres e mais do que igualdade, busca equidade de gêneros. É um movimento social.
Não há imposições a serem seguidas no Sagrado Feminino. Os círculos de mulheres são, em essência, para acolhimento e ensinamentos. A sacralidade do feminino tem como objetivo o empoderamento. E esse feminino engloba mulheres cis e mulheres trans. Pois o útero aqui não é apenas um órgão físico, é uma energia psíquica e espiritual. Não tratando-se de biologia, pois mesmo sem a presença física, sua energia sutil permanece intacta. O que também engloba mulheres que por qualquer outro motivo não tenham, fisicamente, útero. É importante ressaltar que, homens também têm espaço no Sagrado Feminino. A energia masculina e feminina são partes de um todo.
No que tange a essência feminina não se trata de submissão ao patriarcado, como foi ensinado pela sociedade. Trata-se de um resgate ao arquétipo da mulher selvagem. Essa mulher tão bem explicada pela escritora Clarissa Pinkola Estés, em Mulheres que Correm com os Lobos. Ao encontrar sua verdadeira essência reprimida por uma sociedade machista, somos livres para fazer nossas próprias escolhas. Nos libertando de estereótipos e papéis sociais. O Sagrado Feminino é sobre espiritualidade, força, coragem e sororidade. O que muito se assemelha ao feminismo.
O útero, nosso caldeirão, também é nosso segundo coração. Capaz de guardar memórias de nossas vidas, de nossos ancestrais e do inconsciente coletivo. O útero é capaz de criar independente do gênero. Ele cria filhos, projetos, sonhos. Perceber isso é valorizar algo intrínseco. Está realinhada com a natureza e com o útero, é fazer escolhas conscientes e mais sustentáveis. É ir de contra mão a tudo que foi ensinado pela sociedade machistas e patriarcal que estamos inseridas. É preciso honrar nossos ciclos, quem somos, nossos corpos e nossas irmãs. Ajudar e fortalecer outras mulheres. Sagrado Feminino e Feminismo são complementaridade, um no âmbito espiritual e emocional, e o outro, no político e social. Nesse sentido, entender seu corpo (como um todo, muito além do útero) e seus ciclos (ou falta deles) é algo revolucionário e empoderador.
No entanto, viver sob essa perspectiva é um privilégio na atual sociedade capitalista em que vivemos. Uma sociedade que negligencia as necessidades femininas e subjuga a mulher em uma figura de inferioridade. Tornando-se ainda pior quando se trata de mulheres trans, negras ou pobres. A desigualdade social é uma mazela, onde grande parcela da sociedade não têm acesso ao mínimo necessário para viver com qualidade e conforto. Não bastante, o número de violências domésticas, obstetras e de todas as formas contra mulheres, vêm se tornando cada vez mais corriqueiras e banais. É compreensível a crítica direcionada ao Sagrado Feminino nesse contexto, entretanto, é um equívoco acreditar que o Sagrado Feminino é responsável por um sistema de opressão do qual o capitalismo oprime a todos nós.
Nesse sentido, o feminismo se faz presente e necessário para garantir que todas as mulheres tenham acesso aos mesmos direitos. Viver sob a ótica do Sagrado Feminino é uma escolha diária, constante e consciente, apesar das circunstâncias. Pequenas atitudes no cotidiano, uma nova forma de pensar e enxergar a vida e, principalmente, a si mesma. O Sagrado Feminino não deve ser visto como algo excludente e elitista, quando na verdade é uma potência para se chegar na sua mais pura essência como mulher.
“Quando as mulheres reafirmam seu relacionamento com a natureza selvagem, elas recebem o dom de dispor de uma observadora interna permanente, uma sábia, uma visionária, um oráculo, uma inspiradora, uma intuitiva, uma criadora, uma inventora e uma ouvinte que guia, sugere e estimula uma vida vibrante nos mundos interior e exterior. Quando as mulheres estão com a Mulher Selvagem, a realidade desse relacionamento transparece nelas. Não importa o que aconteça, essa instrutora, mãe e mentora selvagem dá sustentação às suas vidas interior e exterior.” Clarissa Pinkola Estés