Os piores acontecimentos são aqueles que acontecem só na nossa cabeça. Quer ver?
Quando eu tinha 15 anos, imaginava que eu, aos 20, seria bem diferente. É uma questão matemática: a gente olha as opções que tem, o que quer, tira conclusões. Surgem novas opções, novas vontades, a gente muda de ideia, dá errado. E está tudo bem.
Vou contar duas certezas que eu tinha na época e mantive até muito além dos meus 15 anos: ter um primeiro livro publicado era difícil (bem difícil) e tirar a carteira de motorista era fácil (bem fácil).
Ter um primeiro livro publicado era difícil porque você, o iniciante, geralmente acaba pagando pela publicação; precisa de alguém que se interesse pelo que faz; precisa conhecer pessoas; precisa ouvir muito “não”; precisa, precisa, precisa. Era essa a história da J.K Rowling e de seu Harry Potter, não era? (o sucesso de Harry Potter estourou bem nos meus 15 anos; e não, não tinha Crepúsculo ainda-mas isso é outra história).
Passar na prova da auto escola, por outro lado, era fácil. Afinal de contas, era só saber dirigir. Você fazia umas aulinhas, aprendia, sentia um nervosismo na hora, mas passava. Se não dava, conseguia na segunda ou na terceira prova. Era quase uma certeza, não? Faz a prova, pronto.
Isso eu, Luisa, pensava aos meus 15 anos. E eu, Luisa, já queria ser escritora aos 15 anos. Sei lá, eu amava ler e escrever. E eu, Luisa de 15 anos que queria ser escritora, sentia um cisco de agonia quando me lembrava de quão difícil era ser escritora, publicar um primeiro livro, coisa e tal. Junto do “O que você vai fazer na faculdade?”, meu cisco virava um tumor. O drama: o que eu queria fazer no futuro, as opções do curso.
Em 2010, eu estava tirando minha carteira de motorista. Aulas, aulas. E, nisso tudo, uma colega comentou: “Olha só esse prêmio literário. Se alguém se interessar”. O tal do prêmio garantia a publicação aos ganhadores.De 1,2 mil concorrentes (livros de jornalistas, médicos, do Brasil inteiro, gente muito mais velha do que eu) meu livro de contos foi escolhido e publicado. E nunca ouvi um “não” de uma editora. E eu nunca consegui tirar a carteira de motorista. Bombei na prova prática seis vezes (sei lá, acho que até mais). Fiz mais aulas práticas do que dava pra preencher na tabela. Eu sabia dirigir bem, mas ia mal na prova.Acho que já ficou mais ou menos claro aonde eu quero chegar, né?
O que quero dizer é que não dá para generalizar antes de passar pela experiência (na verdade, nem depois, mas isso é outra história). “Ah, a Ju foi mal no vestibular, eu irei mal também…” Não é assim. Tem gente que apanha para conseguir um primeiro namorado; gente que apanha para fazer o resumo; gente que fica cinco anos no cursinho; gente que arrasa na pista de dança; gente que não precisa estudar…
E a gente acaba sofrendo à toa. Teria feito alguma diferença ficar pensando na prova da auto escola aos 15 anos? E todas as minhas preocupações com publicar ou não um livro mudaram alguma coisa?Já faz tempo que decidi que todas as experiências desconhecidas são fáceis e boas. Só depois formo uma opinião. Antes só questão de relax and take it easy. Enfim, isso é outra história.
Por Luisa Geisler