O Perigo de Estar Lúcida, de Rosa Montero, é uma espécie de mergulho sem boia no mar revolto da mente — ou, melhor dizendo, na beira do abismo que tantas de nós já espiamos (mesmo que em silêncio).
Montero escreve como quem sangra bonito. Como quem entende que viver é, muitas vezes, lidar com uma corda bamba entre o colapso e o encantamento. Ela fala sobre genialidade, loucura, arte e depressão com a naturalidade de quem já dançou com todos esses monstros. E talvez ainda dance.
O livro mistura ensaio, autobiografia e um quê de desabafo — daqueles que a gente só tem coragem de fazer na madrugada, com uma xícara de café frio na mão e um coração esfarelado no peito. Não tem uma narrativa clássica. É quase uma conversa crua, sem maquiagem, sobre o que acontece quando o mundo lá fora é só mais uma camada do caos que vive dentro da gente.
Rosa passeia por nomes como Virginia Woolf, Sylvia Plath, Camille Claudel, Frida Kahlo, e tantas outras mulheres que criaram com as entranhas — e que, muitas vezes, pagaram com a própria sanidade por ousarem existir tão intensamente. Mas mais do que biografias trágicas, ela nos entrega espelhos. Porque, em algum grau, todas nós já estivemos perto demais da borda.
Ler esse livro é como ouvir “Free” da Florence + The Machine num loop eterno enquanto tenta se convencer de que está tudo bem (mesmo quando não está). É sobre estar à flor da pele num mundo que nos quer anestesiadas. Sobre ter medo de enlouquecer… e às vezes desejar isso, só pra silenciar o barulho.
O Perigo de Estar Lúcida é uma carta aberta para todas nós que sentimos demais, pensamos demais, carregamos o peso do mundo enquanto tentamos manter o rímel intacto. Um lembrete de que a sensibilidade não é fraqueza — é resistência. E que talvez, só talvez, estar um pouco à beira seja o preço de enxergar o mundo com mais verdade.
E eu, que coleciono devaneios como quem coleciona cicatrizes, só posso dizer: leia. Devore. E se permita estremecer.
Sugestão para ouvir enquanto lê: Free – Florence + The Machine
⭐⭐⭐⭐⭐
