Saúde Feminina

Coletor Menstrual: Tudo que você sempre quis saber

Uma breve história sobre ressignificação da menstruação: 

A minha história talvez também seja a mesma de muitas outras meninas e mulheres que odeiam absorventes. Eu menstruei a primeira vez com 15 anos, diferente das outras meninas que tiveram a menarca muito antes de mim. Lembro que ansiava por aquilo, para que finalmente me tornasse, como costumavam dizer “mocinha” (Hoje felizmente sabemos da problemática por trás disso, mas na época foi um evento na família, ganhei até flores). Foi então em um dia aleatório, voltando de um sebo de livros (onde me apaixonei perdidamente por uma coleção de matérias e entrevistas históricas da banda Legião Urbana, que algum colecionador se desfez e banda da qual eu era obcecada), cheguei em casa e, ao ir ao banheiro, percebi ali, sem aviso prévio, uma pequena mancha de sangue na calcinha. Era pequena, quase imperceptível, mas foi o aviso de que algumas horas depois ela viria de vez. Ainda não o suficiente para que eu usasse de fato um absorvente, com o fluxo pouco, mas constante, fiquei usando protetor diário nos primeiros dias. Até que finalmente chegou o fatídico momento: o de trocar por um absorvente. Foi o começo do fim da minha paz. 

Naquela época era minha mãe quem os comprava para mim, ela comprava os mesmo que usava, com abas e com toque seco. Parecia ótimo, certo? Abas para manter sempre seguro, toque seco para ficar seca… Oras! Tudo que eu poderia querer, certo? Errado! As abas s e m p r e desgrudaram e o tal do toque seco, sabe?! Sempre me assava, afinal, é um plástico! Foi então que troquei pelo de algodão, tinha tudo para dar certo – na minha cabeça – mas não deu, obviamente, e por motivos que todas as pessoas que já menstruaram e usando um absorvente na vida vão entender. Ainda mais quando tive que usar o noturno por ser maior etc e tal, até tentei internos, mas convenhamos, todos eles são extremamente desconfortáveis, anti-higiênicos e todos eles possuem neutralizadores de odor, perfumes, cores artificiais, poliéster, adesivos, polietileno (PET), polipropileno e propileno-glicol, substâncias contaminantes ligadas à disrupção hormonal, câncer, problemas de nascença e infertilidade. São um risco à saúde.

No entanto, eu preciso fazer uma ressalva importante: em um país com extrema pobreza menstrual, onde meninas perdem inclusive aula por estarem menstruadas e não terem condições de comprar artigos de higiene e lidam da forma como podem, ter o poder de escolha sobre como lidar com a sua menstruação é um privilégio. Os absorventes devem sim serem distribuídos gratuitamente para meninas e mulheres em situação de vulnerabilidade social. E quem sabe um dia os coletores também possam fazer parte da realidade de todas.

Entretanto, voltando aos meus 15 anos e no cenário em que vivia, foi então que eu declarei guerra aos absorventes e isso fez um estrago ainda pior, fez com que eu achasse que o problema era a menstruação e a odiasse também. Passei anos detestando menstruar, assim como muitas mulheres (isso porque eu nem tinha cólicas) e foi então que dez anos depois, eu descobri o coletor menstrual. Na verdade, já sabia da existência dele um pouco antes disso, mas não enxergava ainda muita utilidade. Mas então, decidida a experimentar e dar uma chance, comprei. Foi amor no primeiro uso. 

Uma pequena parcela das mulheres infelizmente não se adaptam bem, e por isso os absorventes ainda possuem sua importância. Mas acredite, você só vai saber se permitir experimentar

Comprei meu primeiro coletor, ele era roxo, logo depois veio o rosa, veio o mini, veio o arco-irís… Pesquisei formas de dobras e descobri o mais inacreditável naquele momento, eu amava menstruar! E amo! Sem todas essas preocupações do absorventes e desconfortos, pude me conectar com a minha menstruação, minha essência, meu sagrado. Comecei a plantar minha lua, a entender meus ciclos. Claro que tudo isso foi de grande contribuição também da decisão de parar de tomar anticoncepcional e colocar o DIU de cobre, livre de hormônios (mas isso já é assunto para outra matéria). 

O coletor menstrual também é mais econômico. Em um ano, a mulher consome aproximadamente 24 pacotes de absorventes, com um preço médio de R$10 por pacote. A estimativa é de que ela gaste R$240,00 com absorventes íntimos por ano. Já no caso do coletor menstrual, que possui preço entre R$70,00 e R$150,00 e pode ser usado por 3 anos, o custo anual fica entre R$23,00 e R$50,00.

Trocar os absorventes descartáveis por outros métodos, como o coletor, a calcinha menstrual ou absorventes de tecido, não beneficia apenas a você mesma, mas também ao planeta e todos que nele vivem, homens, mulheres, pessoas, animais. Consideramos que uma pessoa que menstrua tem um ciclo dos 11 aos 54 anos, em toda a sua vida ela usará mais de 130 quilos de absorventes. Multiplicado por todas as pessoas que menstruam na terra, isso é muito lixo descartado, sendo que absorvente íntimo leva em média 400 anos para se decompor. 

Mas então, você chegou até aqui e quer saber mais sobre o copinho, como também é chamado, leia as respostas para as principais dúvidas sobre o coletor menstrual: 

Engana-se quem pensa que o coletor é coisa dos millennials, ele surgiu em 1937, criado pela atriz norte-americana Leona W. Chalmers, mas já existiam registros de outros mais antigos. 

Mas afinal, o que é o coletor menstrual? 

É um dispositivo simples, feito de silicone hipoalérgico e antibacteriano, que possui formato de taça. 

Como funciona? 

Ele deve ser colocado no canal vaginal durante o fluxo menstrual para que o sangue seja coletado em seu compartimento. Por ser feito de um material maleável, ao colocar no canal vaginal, o coletor se ajusta às paredes internas da vagina e cria um vácuo, fixando e evitando vazamentos. 

Como utilizá-lo? 

A primeira vez pode ser um desafio, mas logo você pega a prática ao entender melhor a anatomia da sua própria vagina:

  • Comece higienizando as mãos com água e sabão, você também pode fazer isso no banho;
  • Fique em uma posição confortável, pode ser deitada, sentada, apoiada no vaso sanitário ou de cócoras;
  • Dobre o coletor usando a dobra que você preferir para encaixá-lo no canal vaginal;
  • Insira o utensílio dobrado no início do canal vaginal, empurrando-o em direção a sua coluna, e não para cima;
  • Após acomodá-lo, solte a dobra para que ele se ajuste nas paredes da vagina;
  • Por último, passe o dedo nas laterais do copinho para garantir que ele está devidamente aberto. Se ainda estiver dobrado, gire-o pela base para que ele se abra completamente. Você pode utilizar um pouco de lubrificante, caso sinta a necessidade, para auxiliar na colocação. 
6 tipos de dobra para usar o seu coletor menstrual

Dá para sentir?

Não. Se você sentir é porque provavelmente colocou de forma errada. Pode acontecer também do cabinho incomodar, você pode cortá-lo na base, tomando cuidado para não cortar o coletor, sem prejuízos. Caso queira também, é possível virar o coletor “ao avesso” deixando o cabo para dentro do copo.

Quanto tempo posso ficar com ele?

O coletor menstrual deve ser retirado, esvaziado e higienizado a cada 6 a 12 horas. A quantidade exata de tempo vai depender da intensidade do fluxo menstrual de cada mulher.

Posso nadar e praticar esportes? 

Pode e deve. Quando inserido corretamente ele não corre perigo de vazar. 

Como retirá-lo e o que fazer com o sangue depois? 

  • Comece lavando as mãos com água e sabão, também pode ser feito no banho;
  • Fique em uma posição confortável e relaxe. Nesse caso, precisa ser próximo ao vaso sanitário;
  • Insira os dedos no canal vaginal e pressione a base do coletor para retirar o vácuo, não puxe o cabinho, ele serve apenas para você se localizar melhor;
  • Quando sentir que o vácuo foi retirado, puxe-o gentilmente até remover o coletor por completo.
  • Após a remoção, você deve esvaziar o seu coletor no vaso sanitário ou no banho e higienizar o copinho. Claro, você também pode guardá-lo em um pote próprio e plantar a lua, fazer desenhos ou o que mais quiser.

Como higienizá-lo? 

Deve ser feita de forma diferente durante e após o ciclo menstrual. No período da menstruação, é recomendado lavar apenas com água ou sabão neutro a cada troca, ou produto próprio. Esse da Korui é ótimo e rende bastante, apenas um pouquinho basta. Com o término do ciclo, a higienização deve ser feita da seguinte forma:

  • Lave-o com água e sabão neutro para retirar os resíduos;
  • Ferva aproximadamente 500ml de água;
  • Coloque o coletor menstrual em um pote usado apenas para essa finalidade;
  • Despeje a água até cobrir o coletor menstrual, deixando-o submerso por alguns minutos;
  • Depois, é só secá-lo e guardá-lo em um local limpo para que possa ser utilizado no próximo ciclo.

Quais cuidados eu devo ter com o coletor menstrual?

O coletor menstrual é seguro e cada vez mais recomendado, no entanto, é importante ter alguns cuidados para minimizar os riscos de alergias e infecções, que podem acontecer quando há uma má higienização correta do copinho. 

É importante lembrar que as bactérias e fungos gostam de umidade e calor, por isso, os cuidados para evitar as infecções são: higienize o coletor adequadamente, seque bem a vulva e use calcinhas de algodão, para melhorar a ventilação da região íntima. Se houver a presença de alguma alteração ou incômodo na região vaginal após o uso.

Existem tamanhos e modelos diferentes? 

Atualmente, existem diversos modelos e cores disponíveis no mercado, são divididos nos tamanhos:

  • Tipo mini: Esse é o menor dos tamanhos de coletor menstrual e é recomendado para quem está amamentando, no pós-parto, possui o colo do útero baixo ou pouco fluxo menstrual.
  • Tipo 1: Pode coletar até 25 ml de sangue menstrual. Indicado para quem tem fluxo normal e não encaixa nas recomendações do mini. 
  • Tipo 2: Tem a capacidade de coletar até 28 ml de menstruação. Indicado para quem possui fluxo intenso, tem mais de 35 anos ou já teve parto normal. 

Para saber a altura do seu colo, faça o teste do toque, introduzindo o dedo indicador: 

  • Colo baixo: dedo inserido até a primeira articulação.
  • Colo médio: dedo inserido além da primeira articulação.
  • Colo alto: dedo inserido além da segunda articulação.

Onde comprar? 

Atualmente existem diversas empresas especializadas em coletores menstruais, assim como calcinhas menstruais e absorventes de pano. Sendo possível adquirir de forma online ou presencial. Opte sempre por empresas responsáveis e marcas de qualidade, como a Korui e a Fleurity.

Quando trocar de coletor?

Os coletores possuem prazo de validade estimado em 3 anos. Então, considerando 40 anos de vida fértil, que equivale a 480 ciclos, cada mulher descarta um total aproximado de 14 coletores menstruais, contra 7.200 absorventes que levam 400 anos para se decompor. Além disso, é importante considerar que o silicone é constituído principalmente de silício, um composto encontrado em abundância na natureza. 

coletor menstrual

Coletor menstrual, uma opção mais limpa, segura e sustentável. ♡

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