Latte & Read #24 | Dezembro 2025
Madame Bovary, clássico da literatura francesa, foi publicado no século XIX, o livro acompanha Emma Bovary, uma mulher sufocada pela rotina do casamento e pela mediocridade da vida, que busca na fantasia romântica e no consumo excessivo uma saída para o vazio que sente. Flaubert constrói essa trajetória com uma escrita precisa e irônica, expondo não apenas os desejos da protagonista, mas também as hipocrisias sociais, morais e afetivas do seu entorno.
A leitura provoca um sentimento agridoce constante, especialmente em relação a Emma. Em muitos momentos, é impossível não sentir empatia por sua frustração, seu tédio e sua ânsia por uma vida mais intensa e significativa. Emma quer mais do que o mundo parece disposto a oferecer a uma mulher em sua posição, e essa sede de experiência torna sua dor compreensível. Ao mesmo tempo, suas escolhas impulsivas, seu egoísmo e a forma como ignora as consequências de seus atos despertam irritação e até rejeição. Flaubert não a idealiza nem a condena totalmente, ele a expõe, com todas as suas contradições.
Essa ambiguidade é uma das grandes forças do romance. Emma Bovary não é uma heroína clássica nem uma vilã simples; ela é humana, falha, excessiva. Oscilamos entre compreender seus desejos e repudiar suas atitudes. Flaubert cria personagens complexos e retrata o choque entre sonho e realidade.
No fim, Madame Bovary é um livro que permanece atual justamente por provocar esse desconforto. Ele questiona expectativas sociais, romantização do amor e a ideia de que a felicidade está sempre em outro lugar. Gostar do livro não significa gostar de Emma o tempo todo, e talvez seja exatamente essa relação conflituosa com a personagem que torna o romance tão marcante e memorável.
⭐⭐⭐⭐

