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It Girls + Cool Girls Book Club: A Metamorfose de Franz Kafka

Um retrato sombrio e simbólico do que acontece quando o corpo já não serve e a utilidade social se esvai. Kafka não escreve sobre um inseto. Escreve sobre a gente, quando envelhece, adoece, quebra, e passa a ser ignorado, como se a fragilidade humana fosse algo inconveniente.

Gregor Samsa acorda transformado, mas o verdadeiro horror não está nas patas, nas antenas ou no casco grotesco. Está na maneira como a família, aos poucos, o apaga. Como o amor que parecia incondicional cede espaço à repulsa. Como a vida vai sendo trancada porta após porta.

É um livro curto, sufocante, mas brutalmente verdadeiro. A metáfora é clara: quando já não podemos mais produzir, trabalhar, sustentar, ser “úteis”, nos tornamos peso. E o que se faz com o peso? Isola-se. Esconde-se. Espera-se que desapareça.

Kafka escreve com um silêncio que grita. Com uma frieza que diz tudo. Não há grandes momentos de comoção, nem reviravoltas de esperança, há o cotidiano da exclusão, da perda de identidade, da dor que não encontra nome. Há o fim sem redenção.

Ler A Metamorfose é como encarar o abandono de frente, sem maquiagem, sem frases motivacionais. É sentir na pele o que é ser descartável numa sociedade que mede o valor pela produtividade. E é, também, uma lembrança incômoda: todos nós, um dia, podemos virar Gregor Samsa.

⭐⭐⭐⭐⭐

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