Acordar dizendo “tudo dá certo pra mim”, acreditar com todas as células que o universo conspira ao seu favor, agir como se a vitória fosse inevitável. Parece loucura? Pode até parecer. Mas para muitas mulheres, isso se chama Lucky Girl Syndrome, ou, em bom português, Síndrome da Garota Sortuda.
Mais do que um trend nas redes sociais, é quase um feitiço moderno, uma mistura de afirmação positiva, lei da atração e aquele desejo profundo que a gente carrega no peito de que, por um milagre, a vida se desenrole com leveza e beleza.
Mas será que isso funciona mesmo? Ou será só mais uma cobrança disfarçada de positividade? É a ideia de que, ao acreditar fielmente que tudo vai dar certo para você, você se torna um ímã de oportunidades, coincidências felizes e conquistas.
O Lucky Girl Syndrome tem seus lados positivos. Desenvolver autoconfiança, acreditar que se merece coisas boas, transforma a postura, a energia e até a forma como se é percebido pelos outros. Há também uma mudança de foco: as oportunidades passam a se destacar mais do que os obstáculos. Isso pode trazer uma sensação de paz interna, especialmente ao soltar o controle e aliviar a ansiedade, mesmo que temporariamente. Além disso, repetir frases positivas, visualizar um futuro desejado e imaginar cenários felizes compõem um verdadeiro ritual, que carrega traços ancestrais. É uma espécie de feitiçaria moderna, uma cura simbólica. No entanto, esse fenômeno também carrega críticas importantes. Uma delas é a ideia da espiritualidade neoliberal, que ignora contextos sociais complexos ao afirmar que tudo depende apenas da “vibração” pessoal, apagando a existência de sistemas de opressão como o racismo, a pobreza e o machismo, que não se resolvem com pensamento positivo. Além disso, há uma culpa disfarçada: se algo der errado, será que a pessoa não acreditou o suficiente? Por fim, o capitalismo rosa se aproveita do discurso do empoderamento para vender produtos com frases como “sou uma garota de sorte”, transformando espiritualidade em estética e cura em consumo.
Ainda assim, tem quem escolha acreditar. Porque, no fim das contas, há uma certa magia em andar pela vida como se ela estivesse sempre prestes a surpreender, e, cá entre nós, às vezes, ela está mesmo.
