Frida Kahlo não foi só uma artista. Ela foi um furacão em cores primárias, uma mulher de silêncios barulhentos e dores bordadas com flores no cabelo. Nascida no México em 1907, Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón viveu uma vida curta, intensa e transformadora, e segue sendo um dos nomes mais reverberantes da arte e da moda no século XXI.
A mulher que pintava o que sentia
Frida começou a pintar aos 18 anos, após um acidente de bonde que a deixou entre a vida e a morte. Com a coluna fraturada e o corpo imobilizado por meses, ela encontrou nas telas um caminho de reconstrução e expressão. Seus autorretratos, mais de um terço de toda sua obra, são reflexos profundos de sua dor física, emocional e existencial.
Frida não se esquivava do feio, do sangrento, do desconfortável. Pelo contrário: ela o transformava em beleza e símbolo. Em “A Coluna Partida” (1944), por exemplo, se retrata com pregos fincados no corpo e a coluna substituída por uma estrutura de pedra quebrada. Em “Diego em meu pensamento” (1943), ela fala do amor e do tormento de sua relação com o também pintor Diego Rivera.


Estilo como manifesto
Frida vestia o México. Seus trajes tradicionais, vestidos Tehuana, rebozos, saias amplas, blusas bordadas e joias indígenas, não eram simples escolhas estéticas: eram declarações políticas. Em tempos de colonialismo cultural, ela celebrava sua identidade mestiça com orgulho e coragem.
Além disso, as roupas cumpriam também uma função prática: ajudavam a esconder as sequelas dos inúmeros procedimentos cirúrgicos que sofreu. Mas ela transformou esse ocultamento em espetáculo, um desfile de força, ancestralidade e feminilidade rebelde.
O estilo de Frida reverbera até hoje nas passarelas e nas ruas. Estilistas como Jean Paul Gaultier, Dolce & Gabbana, Givenchy e Valentino já prestaram homenagens explícitas à sua estética vibrante. Ela também virou musa de editoriais, estampas, acessórios e coleções que misturam tradição e transgressão.
Mas é bom lembrar: Frida é mais do que estampa. Ela foi comunista, antifascista, crítica do patriarcado, uma mulher queer antes de o termo se popularizar, e uma figura que desafiou as normas de beleza, de gênero e de comportamento.

E por que Frida ainda nos impacta tanto?
Porque ela nos autoriza a sentir. A sofrer. A mostrar nossas rachaduras. Porque ela pintou dores que muitas mulheres carregam em silêncio. E porque ela viveu com a intensidade de quem sabia que o tempo é curto — mas a arte, a arte é pra sempre.
“Pés, para que os quero se tenho asas para voar?”, dizia Frida. E voou. Entre pincéis, flores, cicatrizes e palavras.
Ela ainda voa por aí, nos lenços floridos, nos olhos marejados diante de um quadro, nas mulheres que não se encaixam e nem querem.
Frida, eterna.
Frida, nossa.

