O Filho de Mil Homens, de Valter Hugo Mãe, é como um abraço com uma força tão silenciosa que só percebemos depois da última página, uma fábula terna e brutal sobre pertencimento, amor e a beleza de ser família fora de qualquer molde.
A história gira em torno de Crisóstomo, um pescador de quarenta anos que carrega o peso da solidão e o desejo profundo de ser pai. Só que, diferente das histórias comuns, a paternidade aqui nasce do afeto, da escolha e da construção coletiva. Em vez de sangue, o que une os personagens é o cuidado — e o autor nos mostra que isso pode ser infinitamente mais forte do que qualquer laço biológico.
A escrita de Valter Hugo Mãe é de uma delicadeza crua. Tem a simplicidade de um conto contado à beira-mar, mas com a profundidade de quem conhece as dores mais íntimas do ser humano. Ele escreve como quem costura um bordado com as mãos calejadas: cada palavra parece colocada com intenção, cada frase é uma pequena oração sobre o amor em suas formas mais puras e improváveis.
Ler O Filho de Mil Homens é como mergulhar no coração da humanidade. É se emocionar com personagens que foram rejeitados, maltratados, esquecidos — mas que, ainda assim, escolhem amar. É também um lembrete poderoso de que podemos ser casa para alguém, mesmo quando o mundo nos convence de que não somos ninguém.
É um livro sobre reconstrução. Sobre reaprender a se olhar no espelho com gentileza, sobre entender que ser pai, mãe, filho, amigo, pode ser um ato de coragem diária. E é por isso que, ao final, fica aquela sensação de que talvez a vida seja mesmo mais bonita quando a gente aceita que toda forma de amor é válida — e que todo mundo merece um lugar para voltar.
E eu, que choro por qualquer coisa e acredito nesse tipo de beleza, só posso dizer: leia. Com o coração aberto.
Trilha sonora sugerida: Oração ao Tempo – Caetano Veloso
⭐⭐⭐⭐⭐
