Latte & Read #1 | Janeiro 2025
Existem livros que são como uma taça de vinho num dia difícil: você toma um gole e sente aquele calor esquisito no peito, entre o conforto e o desespero. Pequena Coreografia do Adeus, de Aline Bei, é exatamente isso, um gole agridoce da vida, cheio de camadas, intensidade e, claro, um tanto de caos emocional.
A história segue Julia, uma garota tentando existir no meio do barulho de uma família despedaçada, relações truncadas e os fantasmas de uma infância que deixou marcas profundas. Não espere uma narrativa linear ou um texto tradicional. Aline Bei escreve como quem recita poesia no meio de um furacão, com frases curtas, estilhaçadas, como se fossem pedaços de um espelho quebrado refletindo tudo ao mesmo tempo: dor, memória, identidade e a busca incessante por um lugar no mundo.
Ler esse livro é como ouvir No Choir, da Florence and The Machine, enquanto encara o teto às 3h da manhã. É sobre ser jovem e perdida, sobre traumas que nos moldam e sobre aquele eterno desejo de fuga misturado com uma vontade absurda de ser amada. Julia dança com seus próprios destroços, tentando encontrar um jeito de amar e ser amada sem se perder completamente no processo.
A escrita de Bei tem uma delicadeza brutal. É cortante, mas bonita. Densa, mas fluida. Um soco no estômago que a gente aceita de bom grado porque, no fundo, quem nunca se sentiu como Julia? Quem nunca quis sair correndo e, ao mesmo tempo, ser encontrada?
No fim, Pequena Coreografia do Adeus não é só sobre despedidas. É sobre aprender a ficar. Sobre fazer as pazes com o passado sem deixar que ele defina o futuro. Sobre entender que, às vezes, o melhor que podemos fazer por nós mesmos é aceitar a bagunça e seguir dançando.
E eu, que vivo entre crises existenciais e devaneios, só posso dizer uma coisa: recomendo.
Trilha sonora sugerida: “No Choir” — Florence + The Machine.
⭐⭐⭐⭐⭐
